terça-feira, 7 de dezembro de 2010

ESCREVER

''Viver é como escrever um poema.
Cada verso renova seu sentido sem negar os anteriores.
Tal qual se contam sílabas e estrofes,
se contam minutos, horas.
Rimas ocultam rotinas, enfadonhas, talvez,
mas sempre tão necessárias.
E, por fim, chega-se à conclusão, que,
apesar de não ser tão deslumbrante quanto o clímax,
não deixa de ser maravilhosa.
 Escrever é viver,
 sem tirar nem pôr’’

Clarice Lispector

ESPELHO

O mundo é como um espelho
Que devolve a cada pessoa o
Reflexo de seus próprios pensamentos.
A maneira como você encara a vida
É que faz toda a diferença.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A M O R

Nunca amamos ninguém.
Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém.
É a um conceito nosso - em suma,
é a nós mesmos - que amamos.
Isso é verdade em toda a escala do amor.
No amor sexual
buscamos um prazer nosso
dado por intermédio de um corpo estranho.
No amor diferente do sexual,
buscamos um prazer nosso
dado por intermédio de uma ideia nossa.


Fernando Pessoa

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

SONETO DO AMOR TOTAL


Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes

domingo, 28 de novembro de 2010

A L M A

"Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe
a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
 Tem o imaterial peso da solidão
no meio de outros."

Clarice Lispector

sábado, 27 de novembro de 2010

L A B I R I N T O

Sou um labirinto
E os pilares que sustentam
Os diversos caminhos apontados
Representam as multifaces
Das personagens internas
Que interagem no meu ser

Diogo Meirelles

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

SONETO DE FIDELIDADE



De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

SAUDADE

Amanhece!
Novamente a distância
nos separa.
Mesmo assim
quero estar no seu infinito.
Nele repousa a paz.
No pulsar
do meu coração
reside a saudade,
mas a busca de tua presença
faz a distância ser apenas
um detalhe
que serve de tempero,
para tornar este sentimento
ainda mais impetuoso.

Diogo Meirelles

TRISTEZA

Tristezas
são meras curvas
entre o caminho da perseverança
e a vitória.

(Wenderson S. Pires)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

CAPACIDADE

A adversidade desperta em nós
capacidades que,
em circunstâncias favoráveis,
teriam ficado adormecidas.

(Horácio)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O OLHAR

O olho é a lâmpada do corpo.
Se teu olho é bom,
todo o teu corpo se encherá de luz.
Mas se ele é mau,
todo teu corpo se encherá de escuridão.
Se a luz que há em ti está apagada,
imensa é a escuridão.

(Jesus Cristo)

domingo, 21 de novembro de 2010

Verdade inventada

Não quero ter a terrível limitação de quem vive
apenas do que é possível fazer sentido.
Eu não:
quero é uma verdade inventada

sábado, 20 de novembro de 2010

SAUDADE DOI


Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania
de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido às aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na Internet
e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald's;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,
provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...
Miguel Falabella

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

SUGESTÃO


Sede assim – qualquer coisa
Serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
Sem pergunta.

Onda que se esforça,
Por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
Os noivos abraçados
E os soldados já frios.

Também como este ar da noite:
Sussurrante de silêncios,
Cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à pedra detida,
Sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
Vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
Ao camelo que mastiga sua longa solidão,
Ao pássaro que procura o fim do mundo,
Ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa
Serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

SILÊNCIO

Ouve-me, ouve o meu silêncio.
O que falo nunca é o que falo
e sim outra coisa.
Capta essa outra coisa
de que na verdade falo
porque eu mesma não posso.

Clarice Lispector 

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

FORÇA


Minha força está na solidão.
Não tenho medo
nem de chuvas tempestivas
nem de grandes ventanias soltas,
pois eu também sou
o escuro da noite.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

lua

Para sê grande, sê inteiro; nada teu exagera ou exclui; 
sê todo em cada coisa; põe quanto és no mínimo que fazes; 
assim em cada lago, a lua toda brilha porque alta vive.


Fernando Pessoa